Observe as frases:
a) "Você quer ir ao cinema comigo?"
b) "Você quer ir no cinema comigo?"
A frase A apresenta a regência da gramática tradicional, enquanto a B, a coloquial e popular.
Marcos Bagno afirma que o uso da preposição a para indicar movimento e em para indicar repouso, situação, localização, não tem consistência histórica. Essa divisão de tarefas das duas preposições não é obedecida desde João de Barros (1497-1570) no livro Crônica do Imperador Clarimundo: "... era vindo nesta terra" até em Os Lusíadas, de Camões: "Os cabelos da barba e os que descem/ da cabeça nos ombros...".
Observe agora as frases seguintes:
a) Amanhã vou a São Paulo.
b) Amanhã vou para São Paulo.
Na frase A, usa-se a preposição a porque indica menos permanência. O viajante vai e volta. Já na frase b, a preposição indica mais permanência. O viajante vai de mudança para a capital. Assim ensina a gramática tradicional.
As pesquisas de campo do lingüista Marcos Bagno indicam que os usuários não fazem essa distinção, nem mesmo os falantes cultos.
Ele afirma ser comum encontrar o emprego de mais de uma preposição numa mesma unidade discursiva, como mostra o exemplo seguinte:
"Eu fico encantada de ir a uma casa... de flores ou num mercado..."
"O programa pode começar com um simples cinema... um teatro... vai-se a uma boate ( ) não... faz-se algum tipo de programa qualquer... ou então vai pra um bar..."
Quem se aprofunda nos estudos lingüísticos percebe claramente que a gramática tradicional está defasada, não acompanha a realidade, por isso o ensino do português nas escolas se torna cada vez mais difícil.
Escrito por:
*Hélio Consolaro é cronista da Folha da Região, coordenador deste site, professor de Português do Ensino Médio, autor de três livros e membro da Academia Araçatubense de Letras.
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